quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Virgínia Rodrigues e as incoerências do mundo

Relutei muito em escrever esse post. Vou tratar de um assunto muito complicado mas pra chegar lá vou falar sobre Virgínia Rodrigues.
Quando Caetano Veloso viu Virgínia Rodrigues no "Bando de Teatro Olodum em Salvador" gostou tanto que resolveu ajuda-lá a gravar um disco. Sorte dela e nossa, pois a moça possui um talento raro. Voz aveludada e potente são alguns de seus atributos.
De manicure passou a cantora reconhecida. Realizou turnês nos Estados Unidos, cantou na Europa, foi entrevistada por David Byrne. Moçada. Não se iludam! Isso é como ganhar na loteria. Não espere o Caetano passar pelo seu espetáculo ou ligar no seu celular te procurando. Trabalhe muito e acredite no seu som. Existe essa ilusão no meio musical de que um dia você será descoberto. Isso é lenda.
De qualquer forma, ela é boa no que faz. Merece estar onde está e deu sorte na vida. Se puder contar com a sorte, melhor.
Em segundo trabalho, chamado Nós, de 2000, Virgínia fez uma homenagem aos blocos afro de Salvador. Particularmente gostei de uma canção chamada "Salvador Não Inerte" que possui um arranjo de cordas belíssimo:



Logicamente, fui procurar de quem é essa música. Como compositor queria saber quem era o colega que fez essa música. A canção é de um tal de Bobôco e, pasmem, Beto Jamaica. Quase caí pra trás. Graças a todos os orixás, eu não estava em pé. Se você esteve vivo na década de 90 e não morava em uma caverna já ouviu esse nome. É ele mesmo, Beto Jamaica do "É o Tchan!". Um dos maiores lixos culturais da história da música brasileira. Não estou de sacanagem com você não. É sério, muito sério.
Meninos e meninas, o mundo é uma comédia.
Busquei no fundo da minha cachola uma conversa que tive com um amigo de Salvador, o grande Vavá, há alguns anos atrás, e lembrei-me que ele disse que alguns membros do famigerado grupo (que me recuso a digitar o nome de novo) tinham um trabalho voltado para a preservação da cultura afro brasileira na Bahia.
Bom, meus amigos, durmam com esse barulho.
Mas nesse disco também tem Paulo César Pinheiro. Vamos encerrar com ele, que é um camarada bem mais coerente:

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Cinco Sentidos



Você já comprou um disco por causa da capa? Eu não. Mas baixar discos pela capa ou por causa do nome do disco ou do artista eu já fiz. Agora ficou bom porque se eu não gostar deleto.
Foi assim que eu conheci Mateus Aleluia. Vendo as capas e procurando algo diferente para ouvir. Não meu amigos, não tem nada de surpreendente na capa. Apenas um velho preto, não um preto velho. Um senhor negro com um olhar profundo, calmo e um quase sorriso nos lábios. Como vocês podem conferir.
Mas quem é Mateus Aleluia? Mateus Aleluia é Lado Z. É refresco para alma.
Os mais antigos talvez se lembram do grupo baiano "Os Tincoãs", fundado na década de 60 e que Mateus Aleluia era um dos três integrantes. Nesse grupo vocal seus integrantes procuravam valorizar nossas raízes culturais negras. Eu como Vinicius de Moraes sou um branco bem preto, gostei dos caras e do som deles. Recomendo. Posto aqui o maior sucesso do grupo, "Deixa a Gira Girar":



Voltando ao Mateus: único integrante vivo do Tincoãs, respeitado e muito conhecido na Bahia lançou em 2009 o disco Cinco Sentidos em que lança mão das suas composições a partir de uma base afro-barroca e indígena. Original é o que vem da origem e esse disco é raro em todos os sentidos possíveis, não são apenas cinco sentidos, são milhares. O disco traz arranjos impecáveis em um universo lírico rico e uma sensibilidade quase espiritual. Ouço e vejo um Brasil quase esquecido. Fico triste e feliz ao topar com um trabalho desse. Feliz por saber que ainda resistimos, que alguém ainda se interessa e se preocupa em fazer música de verdade e por saber que tem gente pra ouvir. E fico triste por saber que é pra poucos.
Segue abaixo "Ogum Pá", que dói e "Amor Cinza", que dói menos mas nem por isso é menos bonita.






Quer o disco todo. Tem aqui:
http://umquetenha.org/uqt/?p=9766

Tem mais:  Rita Ribeiro, Jussara Silveira e Teresa Cristina gravaram o disco "Três meninas do Brasil" e a música que fecha o disco é justamente  "Deixa a Gira Girar". Quem são essas mulheres? Assunto para as próximas postagens.  Vale a pena ouvir essa interpretação:




Esta postagem é em homenagem à minha amiga e contrabaixista, Larissa Horta, que me cobrou uma escrita.
Valeu Lalá, deixa a gira girar! Sucesso!

terça-feira, 13 de julho de 2010

O Terceiro Lado do Disco

Preto é cor, mas as vezes é gente. Preto é cor e negro é raça. Não confundam as coisas.
Preto é desbocado, é irônico, é debochado e eu gosto disso nele. Há quem goste.
Preto é meu amigo dos mais antigos. Não que sejamos antigos. Mas quando eu nem sabia direito quem eu era já éramos amigos.
Preto é Professor de português e literatura. Gosta e conhece as palavras. Algo caro aqui nesse blog.
Preto é também percussionista e já gravou um disco.
Preto me presenteia com livros, deve me conhecer um bocado. O mais recente foi uma biografia do Apparício Torelly, o Barão de Itararé.
Preto nasceu como Antônio Augusto e virou personagem principal de uma tirinha minha e nem sabe (não sabia até agora).
Meu amigo, Preto, na sua ironia faz perguntas pertinentes e perspicazes. Sobre este blog ele teceu comentários sobre o disco de vinil não existir mais e que o cd de hoje não tem outro lado. O olho dele vai longe. Ele sabia antes de mim que o que eu quero é "o terceiro lado do disco".
Eu quero é a faixa que ninguém ouve, aquela que nunca tocou no rádio - nem mesmo quando quem tinha cérebro ouvia rádio. Eu quero aquela que passou despercebida da maioria. Quero que a ouçam, não quero que fique escondida e muito menos que seu compositor e ou intérprete sinta que fez seu trabalho em vão, que ninguém vai ouvir.
Sendo assim, meu leque se abre bastante. O terceiro lado do disco está em todo lugar, até no compositor famoso (acreditem ou não ainda eles ainda existem... poucos, mas existem). Já temos aqui  o tradicional "lado b do lado b", "lado z" e agora "o terceiro lado do disco". Complicado? Não, eu sei que não.
Para iniciar  a seção "o outro lado do disco " vou falar de Renato Teixeira. Esse paulista de Santos ficou muito conhecido quando Elis Regina gravou Romaria, que toooodooo mundo conhece. É um artista que admiro sob muitos aspectos. Não está na grande mídia mas tem uma carreira bem estruturada, tem os filhos no palco consigo e vai tocando em frente. Mas o que mais admiro é sua incrível capacidade de fazer músicas belíssimas com uma simplicidade rara. Simplicidade extremamente elegante. Sem harmonias sofisticadas pois sua música vem de uma tradição rural, mas com melodias e letras caprichosas. Gosto muito, sobretudo, de um disco seu chamado "Um Poeta e Um Violão" de 1996.
Mostro pra vocês desse disco: Ao Gosto do Coração, Que Nem e as Plantinhas do Mato.

Vou postar em homenagem ao Preto que é também um homem simples do interior...de sua casa em Belo Horizonte no bairro Padre Eustáquio.















Como eu sei que você quer mais, aqui tem o disco completo (pelo menos por enquanto):
http://umquetenha.org/uqt/?cat=55

sábado, 22 de maio de 2010

Antônio Carlos Bernardes Gomes

Meu amigo e parceiro de composição, Lucas Ed., é um camarada interessante e muito interessado por música. Além de ser compositor, é formado em psicologia, é policial civil, cartunista e blogueiro. Tem ótimo gosto musical e estamos sempre trocando sons. Ele gravou pra mim um disco que acredito ser uma pérola. Esse disco se chama "Água Benta". Foi gravado em 1978, ano em que eu nasci. O músico que o gravou se chama Antônio Carlos Bernardes Gomes, nascido no Morro da Cachoeirinha, no Lins de Vasconcelos, subúrbio do Rio de Janeiro. É um disco de sambas. Samba retado, samba pra dentro e como uma certa dose de humor. Humor porque quando Antônio Carlos gravou esse disco ele era um comediante bastante conhecido em todo Brasil e alegrava as pessoas na pele de seu personagem Mussum.
Eu já sabia do fato de que Mussum era um dos membros fundadores do grupo "Os Sete Modernos", posteriormente chamado de "Originais dos Samba", mas ainda não conhecia seu trabalho solo. Os Originais do Samba é acusado de ser o pai de todos os nefastos grupos de pagode que apareceram naqueles triste anos 90. Já eu não diria isso, respeito os sambista de verdade, eles não têm culpa do lixo que veio depois deles.
Água Benta é disco muito bem feito e divertido. Vale a pena ter na discoteca pirata de sua casa. Se achar que convém, baixe ele aqui:
http://ouro-de-tolo.blogspot.com/2007/08/mussum-gua-benta-1978.html
Vou postar "Água Benta", a música que dá titulo ao álbum, e "Cada Vida Um Destino" pra você ficar com vontade de ouvir mais. Não sei ao certo o compositor dessas músicas pois é uma luta achar informações de Mussum como músico em carreira solo. Creio que são essas composições sejam suas. Se alguém descobrir me diga. E se você achar os outros dois discos que ele gravou me mande o link que eu quero baixar..







Valeu Lucas Ed !
Quer conhecer o Lucas? Ele está aqui:
http://ochickeiroquatro.blogspot.com/

Inté...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Luiz Tatit

Coisa bonita é palavra.
Eu sou músico, estudei artes plásticas mas eu gosto mesmo é da palavra. É por causa dela que componho. É por causa dela que este blog existe.
Palavras me tiram o sono (eu deveria estar dormindo agora).
Desde que iniciei esse blog queria falar do Doutor Luiz Tatit. Este sim é um doutor de verdade. Não é um desses que vestem branco, sentam atrás de um cadeira e prescrevem remédios num dialeto incompreensível. Tatit, o músico, o letrista, o homem da linguística e da semiótica é um doutor das palavras.
Leciona na USP, mas eu aprendi muito com ele sem nunca ter assistido a aula sua. Aprendi porque conheço seus discos de cabo a rabo. Conheço o lado a,b e z.
O paulista, Luiz Tatit, fundou na década de 80 o Grupo Rumo. O Grupo Rumo é um legítimo representante da Vanguarda Musical Paulista, ao lado de Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Premeditando o Breque, dentre outros.
Sua obra é vasta e riquissíma. Conhecedor da palavra e do modo peculiar de se entoar a canção brasileira. Tatit criou, à seu modo único, canções que falam do cotidiano, do banal e do corriqueiro de uma forma original, quase falada (na maioria das vezes). Além disso tudo, Tatit é autor de ensaios extremamente importantes para a compreensão da música brasileira.
Hoje vou extrapolar, vou postar três músicas. Foi difícil a beça escolher. Segue então, as canções "Tanto Amor", "Amor e Rock" e "Esboço".

























Eu sei que você gostou. Vai lá: http://www.luiztatit.com.br/

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ceumar - Rãzinha Blues / Prenda Minha

Céu e mar, poesia pura, encanto, notas musicais. Ceumar é tudo isso e muito mais.
Difícil descrever Ceumar, mas eu tenho uma vontade danada de que todo mundo a ouça. Ceumar me encanta, me enfeitiçou há tempos e vou abrir a radiola pra falar dela.
Ceumar anda sempre muito bem acompanhada por Chico César, o Dr. Luiz Tatit e o Grupo Rumo, Gigante Brasil, Alice Ruiz, essa moçada da pesada.
Eu queria ser da tribo de Ceumar. Sabe porque? O primeiro show profissional dela chamou-se "30 músicas que vc não ouve no rádio. Ela entende o Lado B do Lado B.
Mas afinal de contas quem é Ceumar? Ceumar nasceu no sul de Minas, Itanhandu. Já andou por essas bandas de Belo Horizonte e hoje mora em São Paulo.É compositora, cantora e instrumentista. Toca violão, super bem; tem parceria inusitadas como por exemplo Gero Camilo (te desafio a saber quem é Gero Camilo); sua voz é (suspiro) linda. Ceumar tem tudo o que um artista tem que ter, no lugar certo. E pra coroar tudo isso, é também uma moça esteticamente muito bela.
Vou postar um vídeo com duas canções. A divertida Rãzinha Blues de Lony Rosa, esse camarada só achei no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Lony Rosa é cantor, compositor, teatrólogo e escritor (te falei que ela só anda com nego bamba). E na sequência Prenda Minha do já citado Gero Camilo.
A gente percebe quem é Ceumar vendo esse vídeo. Ceumar é gente boa, é boa gente...
Depois me fale quantas vezes você assistiu a esse vídeo.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O Tempo

Celso Adolfo é nosso, é muito nosso. Tem uma carreira longa e profícua. Nasceu em São Domingos do Prata, em Minas Gerais, e marcou minha vida e meus ouvidos quando ouvi  "O Tempo".
Mais uma vez o Acaso me trouxe sons. Sem querer fui parar num show de Celso Adolfo, justamente na turnê de O Tempo. Momento inesquecível.
O Tempo é um disco de 2002. Acho que é trabalho mais bonito de sua carreira. Posso dizer isso pois tenho o prazer de conhecer todos os seus discos. Privilégio meu e de poucos pois seu som não é pra maioria. Pena, eu gostaria que chegasse a todos.
Esse primoroso disco além de ser bonito de se ouvir é bonito de se ver. Sua edição foi extremamente caprichosa, um trabalho quase artesanal. Sua embalagem foi feita em papel reciclado num tom marrom. Seu interior contém belíssimas fotos impressas em papel vegetal. Penso que nossos filhos e netos não terão isso pois a indústrial fonográfica mudou muito e ainda vai mudar muito mais. Estamos em tempos de mídia digital, não é mesmo? Tempo confuso. Na última foto, num fundo azul com pássaros voando, há um poema de Paulo Lemisnki:

"isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai nos levar além"

Tem gente que sabe trabalhar bem...

Deixo a faixa título do álbum, "O Tempo", pra abrir o apetite de vocês.



Veja o que Celso Adolfo faz hoje. Um trabalho bom de pois do outro bom:
www.celsoadolfo.com.br/cms/

sexta-feira, 5 de março de 2010

Simone Guimarães, Cem Anos Para Amar e Baião Barroco

Na música popular brasileira tem muita gente que parece que é de Minas Gerais mas não é. Há casos de músicos não nascidos em Minas Gerais mas que são mais mineiros do que todos, Milton Nascimento é o exemplo maior disso. Nasceu no Rio de Janeiro mas foi criado em Três Pontas e de lá saiu para encantar o mundo.
Apesar de ser mineiro e músico compositor não sei dizer ao certo o diferencial dos músicos nascidos entre as montanhas. Talvez seja algo introspectivo ou nosso espírito barroco, as serenatas do interior, as folias dos escravos. Sei não, admito.
Não conheço Santa Rosa de Viterbo, sei que fica no Estado de São Paulo mas que é pertinho da divisa com Minas Gerais. Lá nasceu, em 1966, Simone Guimarães, cantora, compositora. Fantástica! Sua voz agreste me encanta. Suas composições e suas interpretações me fascinam.
Simone Guimarães anda sempre muito bem acompanhada, nos seus discos figuram participações de grandes nomes da MPB como Milton Nascimento, Ivan Lins, Danilo Caymmi, Francis Hime, dentre outros.
Hoje vou extrapolar. Vou colocar duas canções pois não consegui me decidir sobre qual postar.
Primeiro, "Cem Anos Para Amar" parceria sua com o grande pianista mineiro Kiko Continentino. Essa música me faz verter lágrimas pois me emociona profundamente. Feche os olhos e ouça.



Para finalizar "Baião Barroco". Gostaria muito de saber de onde e como surgiu essa música. Ela é uma parceria de Simone Guimarães como o lendário violonista e guitarrista mineiro Juarez Moreira e me soa como um hino não oficial de Minas Gerais.
Estranha e maravilhosa essa relação de Simone Guimarães com Minas Gerias, nós agradecemos.



Quem sabe ainda não ouço um dia uma música minha na voz de Simone Guimarães? Sonhar não custa nada. Simone Guimarães é jóia fina, eu queria andar por aí com ela também!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Lado Z - Daniela Aragão

Adoro o Acaso, essa entidade misteriosa. Acaso é uma forma de não explicar. "Foi por acaso". Resposta definitiva. Não carece de explicações, e, se houver, muito provavelmente, nunca saberemos. Explicar demais é chato. Bonito e bom é ser simples.

Pra mim, o Lado Z são pérolas que o grande público ainda não encontrou. E queiram os deuses que ainda encontrem, pois fazem um bem danado a vida, torna tudo mais colorido, claro, calmo, cheio.
O Lado Z é deveras charmoso. É Zeus e Zebra.
Não fazemos Arte por opção, arte não é escolha. É a Arte que nos escolhe, nos acolhe. Impossível fugir. Fazemos Arte por uma necessidade física, mística, urgente. Principalmente em um país como o nosso, onde a Arte é mal vista, mal escutada, mal sentida e confunidada com lixo. Lixo esse que é enfiado boca abaixo pelos nossos meios de comunicação e patrocinado pelas grande empresas. Isso é triste. Mas é bonito demais quando a percebe que muita gente ainda faz arte de verdade, sincera, honesta. Não estamos sozinhos.
Vou inaugurar o Lado Z com Daniela Aragão.
Daniela Aragão é juizforana, jovem, mestre em letras, cantora talentosa, estudiosa da música popular.
Daniela gravou um disco chamado "Face A Sueli Costa Face A Cacaso". Trabalho lindo, inspirado e inspirador. Admiro muito os intérpretes que sabem escolher bem seu repertório e Daniela Aragão foi extremamente feliz nessa tarefa. Sueli Costa e Cacaso + Daniela Aragão, que fórmula formidável. Difícil definir a faixa que mais gosto desse álbum. Vou apresentar a vocês "Dona Doninha", canção que fala de uma família.

Foi o Acaso que me trouxe os sons de Daniel Aragão. Obrigado aos dois.




Mais informações:
http://ocantodadaniela.blogspot.com/
http://www.myspace.com/danielaarago

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Segue o Teu Destino

Penso que arte, para ser arte, tem que ser sensível. Isso pode soar um pouco abstrato, eu sei, mas quer dizer muita coisa. Fui procurar no dicionário o significado da palavra sensível. Fui ao Aurélio, sua definição não me satisfez. Fui ao Michaelis e ele me disse algo curioso. Michaelis foi mais sensível pois foi à botânica buscar algo pra pôr sentido às minhas palavras. Segundo ele: Sensível - "10. Bot. Diz-se da planta que se retrai ou que fecha as folhas quando se lhe toca". Acho que é mais ou menos isso que quero dizer. A arte tem que te tocar, te sensibilizar, te emocionar, te questionar, te informar, te transformar. Digo isso sem pieguice porque acredito também que a arte tem uma função que vai muito além das emoções, ou não só a serviço das emoções, como o senso comum acredita. Mas emocionar faz parte, é onde ela te pega primeiro.
Vamos aos sons. Hoje vou matar dois coelhos com apenas uma tacada.
Sueli Costa é uma compositora brasileira, natural do Rio de Janeiro. Criada em Minas Gerais, local que adotou no coração que Sueli Costa iniciou sua carreira - isso já diz muito. Dona de um talento impressionante como instrumentista e principalmente como compositora,  essa artista nos presenteou com canções requintadas, luminosas, doces, e por vezes bastante tristes. Adoro a beleza da tristeza na nossa música popular. Muita gente de peso gravou Sueli Costa, nomes como Gal Costa, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Elis Regina. Homens também gravaram: Ney Matogrosso, Fagner, Cauby Peixoto e outros mais. Mas como aqui é o "Lado B do Lado B" é na voz de Renato Braz que quero que ouçam a belíssima canção "Segue o Teu Destino". Sueli Costa é louça fina.
O paulista Renato Braz é um interprete bastante premiado dono de uma voz de beleza rara. Seu disco "Outro Quilombo" é um dos melhores discos dos últimos dez anos.
Pra coroar esse post informo que a letra dessa música foi retirada de um poema de Fernando Pessoa.
"Segue o teu destino" é muito sensível.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Se o caso é chorar, te faço chorar

Antônio José Santana Martins é um homem inquieto e quando abre a boca a gente se cala e escuta. Ainda bem que ele existe. Eu agradeço aos deuses.
Alguns "fazem" música, compõem, interpretam, criticam, escutam. Já outros, poucos, vão além. Há aqueles que, sobretudo, pensam música - meu amigo, excelente músico, Jardel Rodrim, me fez ver isso. Antônio José Santana Martins faz assim, ele é assim. Antes de tudo, um pensador da música. Esse Antônio, mais conhecido pela alcunha de Tom Zé, é um Gênio (com G maiúsculo).
Tom Zé dispensa comentários. Falar desse músico é chover no molhado. Basta ouvi-lo.
Tom Zé é um caso raro.
Tom Zé é grande. Do interior da Bahia, de Irará, para o mundo.
Essa gravação que posto é do Programa Ensaio, da TV Cultura, dirigido por Fernando Faro. Diga-se de passagem, na minha opinião, o melhor programa de música do Brasil em todos os tempos.
Tom Zé vai falar, escute só...


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Quanta Maldição

Como o destino escolhe seus privilegiados? Sabe-se lá...
Vou abolir desse blog por hora, a palavra Maldito, vou tentar retirar os rótulos. Vamos deixar isso pra mídia.
Vou falar de artistas que acredito serem muito bons mas que não estão, ou nunca estiveram, no chamado show business. Serei mais claro no futuro, acredito.
Para encerrar esse assunto, por enquanto, quero falar de um canção de Zeca Baleiro. Não sou necessariamente um fã do Baleiro, ouvi bastante seus primeiros discos na minha adolescência, e ainda hoje os acho interessantes. O que ele produz hoje já não me interessa, mas algo ainda resiste. O Baleiro fez uma música que se chama Maldição. A letra dá pano pra manga, muito assunto pra prosear, pra refletir. Essa música está no disco Vô Imbolá. Segue abaixo a letra:


"Baudelaire, Macalé, Luiz Melodia
Quanta maldição o meu coração não quer dinheiro quer poesia
Baudelaire, Macalé, Luiz melodia
Rimbaud a missão
Poeta e ladrão escravo da paixão sem guia
Edgar allan põe tua mão na pia
Lava com sabão
Tua solidão tão infinita quanto o dia
Vicentinho, Van Gogh, Luiza erundina
Voltem pro sertão pra plantar feijão
Tulipas para a burguesia
Baudelaire, Macalé, Luiz Melodia, Waly salomão
Itamar Assumpção o resto é perfumaria"

Ouça...



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sérgio Sampaio: "Pobre meu pai"

Vou começar falando de Sérgio Sampaio (não me perguntem porquê). Alguém conhece?
Se isso fosse uma palestra em qualquer auditório lotado talvez uns dois ou três, provavelmente “cabirecas” e barbudos, levantassem a mão.
Sérgio Sampaio é capixaba, de Cachoeiro de Itapemirim. Nessa hora 300 senhoras na faixa dos 60 anos gritariam que conhecem porque foi lá que nasceu o Rei (risos meus) Roberto Carlos.
Sérgio é uma vítima do mercado. Fez músicas maravilhosas, do rock ao tango, mais criativas do que as do Raul Seixas, do qual foi parceiro, e morreu no ostracismo.
Um cara com visual de roqueiro, papo de hippie mas que era fã de Orlando Silva, Nelson Rodrigues e Sílvio Caldas é no mínimo um personagem curioso.
Talvez você conheça “Eu Quero Botar Meu Bloco Na Rua” mas como aqui é o “Lado B do Lado B” vou mostrar “Pobre Meu Pai”, que é uma das muitas músicas que eu acho a mais bonita do mundo. E como o papo aqui é sobre composição achei um vídeo super tosco mas que dá pra gente perceber as sutilezas dessa canção. Nesse vídeo encontra-se Sérgio Sampaio, o violão e um monte de gente passando em frente à câmera.
Não fique só nisso, procure saber mais. Vá se informar, camarada. Te dou uma força. Comece por aqui: http://sergiosampaio.uol.com.br/ . E depois siga seu caminho...
Agora olhe e ouça isso:

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Porque?

Por que o “LADO B DO LADO B”? Melhor seria me perguntar o porquê de um blog? Não tenho muita certeza de nada, apenas convicções (que é uma palavra muito mais bonita). Ter certeza é chato e pode criar constrangimentos. Melhor me defender agora, bem no comecinho. Obviamente, se a gente escreve algo num lugar público, como aqui, queremos que alguém leia (Vide Psicologia dos Pichadores, pg 4). Quero compartilhar idéias, tenho desejo de mostrar minha visão sobre alguns aspectos musicais, especificamente da canção brasileira. Muito me interessa a música que quase ninguém ouve, excelentes artistas que quase ninguém conhece. Talvez eu esteja fazendo isso porque a música que componho é assim, quase que só eu mesmo ouço e alguns amigos e esposa (é claro), pessoas essas de muita boa vontade. Vou falar de um determinado tipo de música não comercial que mesmo quem gosta muito de música brasileira talvez não conheça e pra que quem conhece possa se divertir. Quero abrir espaço na minha prosa para os “marginalizados” da nossa música e nessa ala eu me incluo.
Sem mais delongas...