sábado, 31 de março de 2012

A Mão direita de Vicente Barreto

Há alguns anos um aluno meu, Izaltino Moraes, grande Zazá, peça rara, sujeito boníssimo, me presenteou com um disco chamado "Mão Direita". Disse que estava vasculhando uma daqueles bancas do centrão de Belo Horizonte e achou que eu me interessaria. O disco era tão barato que ele comprou dois, um para mim e outro pra ele. O disco era do Vicente Barreto. Nunca havia ouvido falar do tal músico. Mas todo mundo que ouve um pouco de MPB conhece uma música sua, a mais que batida "Tropicana". Não desanime! Não pare de ler aqui! Morena Tropicana, como é conhecida, é dele do excelente Alceu Valença. Essa música realmente é meio canseira e não apresenta a qualidade da obra de Vicente Barreto.
O nome do disco já é um convite para se ouvir. Quem é músico sabe que o mistério do violão está na mão direita, mas quem ouve atentamente Mestre João Bosco e Mestre Djavan também sabem bem do que estou falando.
Vicente Barreto é da pesada! Ouça um pouquinho da poderosa Mão direita do moço:

Mão Direita - Vicente Barreto / J. C. Costa Neto by Fabrício Belmiro

Na Volta Que O Mundo Dá - Vicente Barreto / Paulo César Pinheiro by Fabrício Belmiro

O Rio Virou Sertão - Vicente Barreto / Celso Viáfora by Fabrício Belmiro

Senhora - Vicente Barreto / Carlos Henry by Fabrício Belmiro

Vicente Barreto é daqueles compositores que precisamos conhecer um dia. Baiano do interior traz uma musicalidade "jeca urbanóide" que me encanta profundamente. Tem uma consciência bacana do país que vive e revela isso em suas composições.  
Vicente possui parcerias com Vinícius de Moraes, Gonzaguinha, Tom Zé, Paulo César Pinheiro e Elton Medeiros, dentre outros. Já foi gravado por Mônica Salmaso, Elba Ramalho e Chico Cesar, por exemplo. Profundo, raro e infelizmente pouco acessível num mundo que em um tal de Teló faz sucesso no mundo inteiro (parece piada de mau gosto). Deixo duas músicas pra finalizar que falam dessas incoerências. A primeira é "Notícias" do disco Mão Direita mesmo e a segunda é "A Cara do Brasil" com Ney Matogrosso (o arranjo lindo), parceria com Celso Viáfora.

A Notícia - Vicente Barreto / Celso Viáfora by Fabrício Belmiro




Vou postar aqui o disco todo pois ele é uma raridade e será difícil encontrar pra baixar:
http://www.4shared.com/rar/YgTB5n5k/Vicente_Barreto_-_Mo_Direita.html

Esse post é dedicado ao meu querido companheiro de sons malditos Márden Pádua. Leitor assíduo do Lado B do Lado B - a quem prometi postar um vez por mês.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Lado Z de Maurício Pereira

Quantas vezes você, músico, ouviu alguém dizer que o Chico Buarque é bom compositor mas que não canta nada. Quando ouço isso eu penso: “Perdoe-lhes, Mestre Buarque, eles não sabem o que falam”.
Aprendi com um diretor musical, com quem trabalhei em um espetáculo, grande maestro, que não gostar de um timbre da voz de alguém é preconceituoso, é como não gostar da cor dos olhos de alguém. A voz de cada pessoa é diferente, nem melhor, nem pior. Não vamos confundir gosto com questões estéticas. Como diz a sabedoria popular “gosto não se discute, mau gosto sim”.
Essa introdução é apenas para falar sobre Maurício Pereira, dono de um timbre delicioso, mas pouco palatável para aqueles pouco afeitos a musicalidade mais refinada.
Maurício Pereira é paulista, antigo parceiro de André Abujamra no extinto Mulheres Negras (a menor big band do mundo). Com cara de boa gente é um compositor criativo. Possui cinco discos autorais com um pegada pop de essência brasileira. Irônico, como muito me agrada, Maurício vem da tradição da Vanguarda Paulistana.
Vamos ver e ouvir:

Pra Marte


Pane e Leche

 

Além disso tudo, hoje Maurício Pereira forma uma dupla "caipira-pop-folk-rock da zona oeste paulistana" com seu filho Tim Bernardes, Pereirinha e Pereirão. Uma piada musical muito divertida e curiosa.
É assim, o Brasil tem uma baciada bons artistas. Não se deixe enganar.
O Maurício Pereira tá aqui:
E aqui:
Ou aqui:

Estou feliz. Há muito tempo queria falar sobre o Maurício Pereira.

Trovoa pra fechar:



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Lado Z de Lula Queiroga

Provavelmente você já ouviu alguma música de Lula Queiroga. O camarada é parceiro de Pedro Luís e Parede e, indo mais longe ainda no tempo, de Lenine.
O primeiro disco de Lenine chama-se Baque Solto,  em 1983, gravado em parceira com Lula Queiroga. Não posso dizer que os dois depois disso tomaram rumos diferentes, pois podemos encontrar semelhanças em suas sonoridades. Mas Queiroga, digamos, ficou mais quieto, acho que ele é mais Pernambucano. Lenine é mais cosmopolitano, suas músicas sofisticadas atingiram a massa. Lenine é foda todo mundo sabe. O que quase ninguém sabe é que Queiroga também é. Eu provo. Ouça:







Sei lá também, Lenine ficou 10 anos sem gravar depois de Baque Solto, esperou a onda do "roque brazuca" passar,  e mesmo assim conseguiu, hoje é nacionalmente conhecido. Quem sabe não chega a hora em que Lula Queiroga irá arrebentar no chamado show business... vai ver também que nem é isso que o cara quer.
De qualquer forma, Queiroga é da pesada. Suas músicas são boas, inteligentes. E de quebra a gente leva aquele sotaque gostoso de Pernambuco.
Mas não pense que o cara é bobo, que ninguém o conhece. Por exemplo, o último disco dele foi masterizado no Abbey Road estúdio. Isso diz muito.
Bom, eu tive que esperar muito tempo para ouvir o Queiroga pois seus discos nunca caíram na minha mão, mas depois da popularização da internet você acha para baixar. Saboreie Queiroga antes que o FBI cancele as páginas de download gratuito. Ou não...

Pra fechar: