quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Virgínia Rodrigues e as incoerências do mundo

Relutei muito em escrever esse post. Vou tratar de um assunto muito complicado mas pra chegar lá vou falar sobre Virgínia Rodrigues.
Quando Caetano Veloso viu Virgínia Rodrigues no "Bando de Teatro Olodum em Salvador" gostou tanto que resolveu ajuda-lá a gravar um disco. Sorte dela e nossa, pois a moça possui um talento raro. Voz aveludada e potente são alguns de seus atributos.
De manicure passou a cantora reconhecida. Realizou turnês nos Estados Unidos, cantou na Europa, foi entrevistada por David Byrne. Moçada. Não se iludam! Isso é como ganhar na loteria. Não espere o Caetano passar pelo seu espetáculo ou ligar no seu celular te procurando. Trabalhe muito e acredite no seu som. Existe essa ilusão no meio musical de que um dia você será descoberto. Isso é lenda.
De qualquer forma, ela é boa no que faz. Merece estar onde está e deu sorte na vida. Se puder contar com a sorte, melhor.
Em segundo trabalho, chamado Nós, de 2000, Virgínia fez uma homenagem aos blocos afro de Salvador. Particularmente gostei de uma canção chamada "Salvador Não Inerte" que possui um arranjo de cordas belíssimo:



Logicamente, fui procurar de quem é essa música. Como compositor queria saber quem era o colega que fez essa música. A canção é de um tal de Bobôco e, pasmem, Beto Jamaica. Quase caí pra trás. Graças a todos os orixás, eu não estava em pé. Se você esteve vivo na década de 90 e não morava em uma caverna já ouviu esse nome. É ele mesmo, Beto Jamaica do "É o Tchan!". Um dos maiores lixos culturais da história da música brasileira. Não estou de sacanagem com você não. É sério, muito sério.
Meninos e meninas, o mundo é uma comédia.
Busquei no fundo da minha cachola uma conversa que tive com um amigo de Salvador, o grande Vavá, há alguns anos atrás, e lembrei-me que ele disse que alguns membros do famigerado grupo (que me recuso a digitar o nome de novo) tinham um trabalho voltado para a preservação da cultura afro brasileira na Bahia.
Bom, meus amigos, durmam com esse barulho.
Mas nesse disco também tem Paulo César Pinheiro. Vamos encerrar com ele, que é um camarada bem mais coerente:

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Cinco Sentidos



Você já comprou um disco por causa da capa? Eu não. Mas baixar discos pela capa ou por causa do nome do disco ou do artista eu já fiz. Agora ficou bom porque se eu não gostar deleto.
Foi assim que eu conheci Mateus Aleluia. Vendo as capas e procurando algo diferente para ouvir. Não meu amigos, não tem nada de surpreendente na capa. Apenas um velho preto, não um preto velho. Um senhor negro com um olhar profundo, calmo e um quase sorriso nos lábios. Como vocês podem conferir.
Mas quem é Mateus Aleluia? Mateus Aleluia é Lado Z. É refresco para alma.
Os mais antigos talvez se lembram do grupo baiano "Os Tincoãs", fundado na década de 60 e que Mateus Aleluia era um dos três integrantes. Nesse grupo vocal seus integrantes procuravam valorizar nossas raízes culturais negras. Eu como Vinicius de Moraes sou um branco bem preto, gostei dos caras e do som deles. Recomendo. Posto aqui o maior sucesso do grupo, "Deixa a Gira Girar":



Voltando ao Mateus: único integrante vivo do Tincoãs, respeitado e muito conhecido na Bahia lançou em 2009 o disco Cinco Sentidos em que lança mão das suas composições a partir de uma base afro-barroca e indígena. Original é o que vem da origem e esse disco é raro em todos os sentidos possíveis, não são apenas cinco sentidos, são milhares. O disco traz arranjos impecáveis em um universo lírico rico e uma sensibilidade quase espiritual. Ouço e vejo um Brasil quase esquecido. Fico triste e feliz ao topar com um trabalho desse. Feliz por saber que ainda resistimos, que alguém ainda se interessa e se preocupa em fazer música de verdade e por saber que tem gente pra ouvir. E fico triste por saber que é pra poucos.
Segue abaixo "Ogum Pá", que dói e "Amor Cinza", que dói menos mas nem por isso é menos bonita.






Quer o disco todo. Tem aqui:
http://umquetenha.org/uqt/?p=9766

Tem mais:  Rita Ribeiro, Jussara Silveira e Teresa Cristina gravaram o disco "Três meninas do Brasil" e a música que fecha o disco é justamente  "Deixa a Gira Girar". Quem são essas mulheres? Assunto para as próximas postagens.  Vale a pena ouvir essa interpretação:




Esta postagem é em homenagem à minha amiga e contrabaixista, Larissa Horta, que me cobrou uma escrita.
Valeu Lalá, deixa a gira girar! Sucesso!